Z no Tatame

A arte-suave e o exemplo como referência

CRISTIANA SOARES E KARINY BIANCA

O calor de Goiânia circula pela academia de Jiu-Jitsu, O treinador, Zé Branco, demonstra uma série de alongamentos. Alguns polichinelos, puxões de perna e de braço. Na hora do aquecimento, os alunos correm em volta do tatame, em círculos. Descontraída, Z solta uma gargalhada em resposta ás gracinhas dos colegas, sua filha Marília Rafaela, de 14 anos, observa atenta. As duas, mãe e filha, treinam juntas, toda semana. O filho caçula, Fabrício, de 10 anos, acompanha a mãe e a irmã, nos treinos, ele pratica o esporte na modalidade infantil.

Zenaide (em pé), Marília Rafaela (esquerda) e o colega de treino, Aécio (direita). Foto: Kariny Bianca.

Cabo da Polícia Militar de Goiás (PMGO) e com 19 anos na corporação, Zenaide Moreira de Freitas, escolheu sua profissão seguindo o exemplo do pai. “Ele me levava no quartel e eu achava muito bonito as mulheres de farda, ficava olhando”, explica.   O sargento, Ivaldi Alves de Freitas, é aposentado, mas deixou o seu exemplo como referência para a família, ele ainda presta seus serviços ao Colégio Militar Miriam Benchimol.

“Z de Zenaide”, imaginei enquanto olhava aquela tatuagem. Como um zumbido de uma abelha. É um desenho tatuado no ombro esquerdo, uma abelha e vários Z’s. Ir para a academia é um prazer que ela tem, apesar das dores musculares. “É normal sentir dor nos músculos após o treino, mas isso não é problema pra mim. A dor mostra que o músculo está crescendo, está causando efeito”, esclarece.

Treinar, malhar e trabalhar sua força física é o que a Z gosta.  Está ai mais um motivo para lutar Jiu- Jitsu, que significa arte-suave, é considerada a mais antiga das artes marciais. Antes de ela pensar em competir, o treinador Zé Branco já incentivava: “Você pode lutar no circuito goiano, você tem força, pode ganhar”. Mas Zenaide ainda não estava convencida “Não sei, tem gente treinando a mais tempo do que eu”, ela insistia.  O tempo foi passando e a vontade de competir era mais forte a cada dia, quando ela está no tatame é notável a sua concentração. “Eu esqueço de tudo lá fora, quando estou lutando parece que os problemas desaparecem”, explica.

De quimono azul e um coque no cabelo, “Será que eu vou ganhar?” ela pensava.  Era 26 de junho, dia da primeira etapa do circuito goiano de Jiu-Jitsu de 2016. A arquibancada cheia fazia ecoar o barulho das pessoas gritando nomes diferentes, no Ginásio de Esportes do Colégio Hugo de Carvalho Ramos, em Goiânia.

Vários lutadores juntos, cada um com uma faixa amarrada na cintura, algumas encardidas, outras nem tanto. No Jiu-jitsu, não lavar a faixa é uma tradição, mostra o tempo de treino de um lutador, simboliza o conhecimento. Muitos, por perceberem essa evolução técnica na faixa, depositam nela um carinho muito grande, como se fosse uma extensão de sua alma.

Z aguarda o momento da luta com ansiedade, depois de muito tempo de espera, a organização do evento informa ao treinador Zé Branco que a primeira adversária de Zenaide foi desclassificada por não ter o quimono regular exigido na competição. Mas tudo bem, ainda faltava um competidora. Nem precisou esperar muito, Z descobre que sua próxima adversária desistiu da luta. “Como assim?”, Zenaide dizia sem acreditar. Com uma medalha no peito, ela não sabia exatamente o que tinha acontecido, mas estava feliz. Sem luta, mas orgulhosa mesmo assim.

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