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E u era uma criança estranha, não tinha amigos, era encrenqueiro, não me encaixava em nada e achava que sabia mais que meus professores (quase Carrie- A estranha) um completo desastre eu sei.
Não foi de todo mal ter sido o protagonista do filme ET durante a minha infância, por conta das minhas peculiaridades desenvolvi ferramentas muito importantes. Por ser o “marginal” da sala eu sempre fazia trabalhos sozinho, dessa forma acabei me tornando independente nos estudos, me tornei autodidata, nunca fui nerd, porém nunca fui mediano, gostava de estudar, quer dizer, só me restava isso, era o preço que eu pagava por ser tão exótico.
Fui empurrado para as bibliotecas de muitas formas: tinha uma mãe que era bibliotecária, gostava de estudar e quando estava lá ninguém me incomodava, via muitos benefícios em ficar nas bibliotecas e me tornei seletivo, só estudava o que me interessava, e por conta disso algumas vezes tirava nota baixa.
Também não era uma criança que sofria calada, eu tinha um gênio bem ruim, praticamente o filho de Lúcifer de tão atentado e briguento, foi nessa época que descobri que tinha uma personalidade forte. Através dos livros descobri muitas possiblidades, e por ser muito criativo, mas não saber usar bem toda a minha criatividade sempre me metia em confusão, e quando digo confusão era do tipo: colocar fogo na sala de aula, literalmente. Aos nove anos descobri como direcionar minha criatividade me envolvendo com a fanfarra da escola, música foi minha primeira paixão e também a primeira válvula de escape, mas foi ao escrever que alguma coisa em mim foi transformada.
No começo escrevia pra desabafar, mas não era bem um diário, com isso percebi que quando escrevia sobre as coisas ruins que me aconteciam de alguma forma elas deixavam de fazer parte de mim se tornando físicas, como se elas fossem arrancadas do meu peito e colocadas no papel, e o mesmo acontecia com as coisas boas, escrever era a minha forma de lembra-las e documentar todas elas. Escrevendo percebi que fazia uma autoanálise constante, me entendia e me estendia de formas cada vez mais profundas, singulares e novas. Percebi que sou heterogêneo dentro das minhas possibilidades.
Por fim, descobri na escrita uma maneira de me eternizar, ser passado a diante de uma forma única através das palavras documentadas, registrar, documentar e descrever se tornaram uma missão, escrever passou a ser necessidade. Escrevendo sou mais eu, descubro mais de mim e mais do que isso, descubro tudo o que ainda posso me tornar. Acho que escrever é isso: possibilidades, poçibilidades e mas possibilidades se é que me intendem. Ser jornalista pra mim não é mais uma opção, porque de certa forma já faz parte de mim, a minha natureza me leva a isso, não me vejo em outra profissão, seria um profissional muito frustrado. Mas a pergunta é: porque decidi ser jornalista? É… acho que vou precisar de outro texto pra responder isso.