Texto produzido por Mauricio Lavanere durante estágio supervisionado.
A violência cometida por jovens adolescentes, em escolas, tem se tornado recorrente e posível perceber por depoimentos de pais, professores e alunos o medo de que passem a ser corriqueiras e venham a fazer parte de nossa rotina, como acontece em outros países, principalmente nos Estados Unidos, onde a cultura armamentista é largamente difundida.
Em 2022, a a frequência de ataques a escolas no Brasil aumentou e testemunhamos cinco ataques com vítimas fatais entre setembro e Abril de 2023. Os casos mais recentes foram em São Paulo, no dia 27 de março, um aluno adolescente atacou a facadas uma escola na Vila Sônia, matando uma professora e deixando outras quatro pessoas feridas e em Santa Catarina, quando um homem matou quatro crianças a golpes de machadinha em uma creche.
Para a psicóloga doutora em educação Cida Alves, que atua na prefeitura de Goiânia, é muito importante que pais e educadores observem os comportamentos dos adolescentes e das crianças.
“Em qualquer situação de violência um dos principais sinais de que algo está acontecendo é a mudança brusca de comportamento. Se a vítima era uma pessoa mais expansiva, ela passa a ficar muito recolhida, muito isolada com manifestações mais ensimesmadas. Se e era um menino mais tímido, pode ter manifestações de irritabilidade e algumas falas que parecem estranhas ao seu jeito costumeiro de ser”, explica ela.
Para Cida, os jovens que estão passando por essas situações e até cometendo atentados têm uma característica importante a ser observada. Não é só em razão das violências que acontecem nas escolas, que infelizmente ainda perduram, que são as discriminações por algum aspecto físico, alguma característica da sua própria comunidade, como discriminações ligadas à raça e etnia, a estética corporal, as vezes a orientação ou identidade sexual, as vezes até a dificuldade de lidar com a diferença entre os sexos, uma discriminação muito forte em relação às meninas.
“Isso pode acontecer no dia a dia da escola, porque nossos meninos e meninas reproduzem os preconceitos existentes na sociedade dentro das suas próprias relações, inclusive nas relações
escolares. O papel das famílias e dos educadores é lidar com essas violências no sentido de desenvolver com eles o respeito à diferença, que não alimente a cultura da violência, em que se resolve conflitos a partir da mediação de valores e práticas violentas”, pontua a psicologa.
Cida pontua que a difusão de discurso de ódio, em especial nas redes e aplicativos de comunicação contribui para que ocorra essa violência. “A partir da entrada destes grupos, vão se afunilando pra grupos mais radicalizados e dentro destes grupos que são organizações criminosas porque difundem discursos de ódio, que tem muitos elementos associados a grupos neofascistas, neonazistas, e se retroalimentam a partir de identificações com esse ideal da glorificação da violência. Então, se vocês observam que seus filhos ou alunos começam a trazer um discurso muito intenso de mudança social, transformação, ou grande desolamento e partem para saídas muito extremistas de que tem que matar, que tem que destruir, esses discursos são sintomáticos”.
A psicologa faz um alerta. “Se eles passam a consumir mensagens, livros ou informações com este conteúdo é muito importante prestar atenção, fazer um monitoramento positivo, é importante acompanhar o que eles consome nas redes sociais, conversem com eles, aproximem-se e, se realmente há um indício de que ele está vinculado a estes tipos de grupos, a interdição tem que ser imediata. Se é dentro da família, a família deve procurar ajuda profissional, deve aprofundar as influências que ele recebe e imediatamente cortar o acesso a esses mentores, a essas fontes que chamamos de irradiação de discurso de ódio. Se é uma denúncia que chega de terceiros, alguém comenta que vai fazer um atentado, que tem desejos de fazer isso, é importante que a escola seja avisada e que comunique às autoridades da segurança pública”.