Por que as pessoas gostam tanto do fofo?

Um cotidiano cheio de objetos, roupas e comportamentos virou estilo de vida para muitos. Essa cultural, além de fofinha, vem ganhando novos significados e ajudando pessoas introvertidas a expressarem sentimentos. 


Por Marcos Ferreira


Com tantas carinhas amarelas, vídeos de animais e bebês circulando pela internet, a cultura do século 21 é obcecada pelo fofo. No dia a dia, todas as pessoas deixaram de expressar ideias ou sentimentos através de palavras e gestos, colocando no lugar emojis ou figurinhas que representam diversas expressões. 😅🥰🤪😱

Tudo que é fofo, delicado, gracioso e infantil tem um espaço especial em nosso coração. Presente na moda, publicidade, entretenimento, gastronomia e comércio de modo geral, essa cultura tem ligação com a infância e comportamentos da sociedade atual.

Para algumas pessoas, o fofo é apenas uma onda de se vestir em tons pastéis, usar canetas coloridas, fantasiar com personagens de desenhos ou até mesmo, usar no trabalho, uma pantufa ou meia bem fofinha.

Para outras, essa cultura vem para agregar um estilo de vida mais realista, onde homens e mulheres encontram uma forma de se rebelar, sem agressividade, contra os valores da sociedade raivosa e obscura.

Parra resgatar essa possibilidade de infância, a moda é a que mais atrai os seguidores deste movimento. Usar rosa, lacinhos, colecionar bonecas, mudar o guarda-roupas sempre com uma peça fofinha é criar um tempo e acrescentar na estética de personificação.

CRESCI, MAS NÃO QUERO SER ADULTO

Arte ‘Jamais Crescer’ – Tirran

Para a Psicopedagoga Andréia Siqueira, essa cultura do fofo se instala na geração atual pelo movimento que vem em resposta a rotina massiva, com vontade de pertencer a um determinado grupo. “Não é necessariamente problemático, mas tem uma tendência entre à ‘Síndrome de Peter Pan’, que aparece quando as pessoas têm certa dificuldade no avanço do desenvolvimento adulto”, afirma.

Para a especialista em psicopedagogia infantil, a fase vem para mascarar de maneira lúdica, o que ocorre na sociedade consumista e egoísta, “é quase como se criássemos uma nova forma de ser e estar na sociedade, internalizo aqui para conseguir ali. Crio minha nova zona de conforto que me expressa essa sensação de acolhimento e transfiro o amor para objetos, roupas, comidas e desenhos”.

Para a geração ‘Alpha’, aquela nascida a partir dos anos 2010, muitos estudos já foram realizados com relação aos padrões de comportamento e estímulos, seja psíquico ou social.

COMPRE COISAS FOFAS, A PUBLICIDADE SUSSURRA

Lego – Chris McKay

Temos um mercado cada vez maior e mais abrangente. Pessoas de todas as idades consomem, buscam, navegam e adquirem cada vez mais estilos e ondas diferentes. Isso atinge muito o mercado publicitário, que busca em crescente forma, gerar novos leads e fidelizar público através marketing espontâneo.

Para Leandro Rangel, Publicitário e Especialista em Marketing Digital, o mercado online inova cada vez mais no quesito fofura, atingindo uma grande parcela do público e os tornando ativos em compras. “A teoria aqui é que todos gostam, consomem e se fidelizam com animais e bebês fofinhos. Não é à toa que as fotos mais curtidas nas redes sociais e os perfis mais seguidos, tem em sua grande parcela, esse adendo de imagens graciosas” explica ele.

The World’s Cutest Adventurers – @mr.pokee

Em uma breve conversa com o publicitário, o termo ‘geração’ foi bastante usado para definir um rastreamento de público. “Eu consigo saber quem vai consumir a partir das necessidades fisiológicas. Anteriormente, tínhamos famílias grandes, com vários filhos que sentiam em sua necessidade a prosperidade com dinheiro. O tempo foi passando e nossa sociedade parou de ter e almejar muitos filhos para terem pets, pequenos e adoráveis cachorros, gatos, peixes, tartarugas e pássaros dentro de casa para lhe fazerem companhia. Assim fica mais fácil cativar e saber o que eles querem e consomem”.

OS FILHOS DE ONTEM, SÃO OS PETS DE HOJE

Isadora Apude Belletti – @isavetgyn

Como curiosidade, a equipe de reportagem do Araguaia Online procurou Isadora Apude Belletti, Médica Veterinária na ISAVET, que atende a região de Goiânia – GO para sabermos mais sobre os tais pets virais que a cercam. “Sim, em sua grande maioria atendo casais que optam por ter pets ao invés de filhos. Eles adotam, criam e adequam seu pet como se fossem filhos. É muito amor agregado aos fofinhos que atendo”, explana sobre seu dia a dia.

É como se fossem transferidos para os pequeninos e fofos animais, toda uma carga de relacionamento social. “São eles que ao final do dia, estão ansiosos pela chegada dos donos. São eles que estão cheios de energias e que adoram lamber e ganhar como distribuir carinho”.

CIÊNCIA X FOFO

Além de questões sociais, estudos garantem que a reação ao deparar com coisas fofas, ou melhor, os impulsos que temos como esmagar, apertar e morder já possuí nome e estudo na Universidade de Yale, nos Estados Unidos da América.

‘Cute Agression’ é o termo acadêmico oficialmente usado para explicar a pane no sistema que ocorre quando estamos expostos a olhos grandes, bochechas rosadas e pelos fofinhos. É uma rápida resposta de proteção, causada em nosso cérebro, que leva um nome contraditório, mas que em sua tradução livre não quer dizer agressividade de maus-tratos, e sim de cuidado.

O FOFO COMO PSEUDO REPRESENTAÇÃO

Zee Dog – Mariano

Um dos principais desafios ao tentar verificar a fofura como influência, é superar a visão generalizada de que o fofo é trivial ou infantil para que seja levado a sério. Talvez, se analisarmos de maneira lúdica, os objetivos fofos são geralmente triviais, mas a percepção e a obsessão conjunta e diária para o mesmo, não é.

Na contemporaneidade, vemos cada vez mais a proliferação do fofo como base de fascinação. Um vídeo se torna ‘viral’ por conter excesso de fofura, os emojis são usados e reconhecidos como material visual, mesmo por pessoas que não sabem ler e escrever, além de fotos, logos e identidades com extrema fofura enfeitarem computadores, smartphones e brinquedos infantis/adultos.

Temos arraigados em nosso ser, a busca por objetos que satisfaça esse lado criança, ou que traga à tona a popularidade do fascínio. Estamos cada vez mais nos tornando infantis, à medida que o mundo apresenta incerto, impregnado a intolerância e impondo injustiça e ódio. A representação do fofo, do local de aconchego e que faz sentir-se na infância, se aproxima por causa da segurança e da inocência.

Weird doll – A Cooper

Sem significado único e simples, o fofo pode partir do extremo doce, onde qualidades inofensivas, inocentes e não ameaçadoras podem ser atribuídas, ou mesmo qualidades sombrias, deformadas e esquisitas, como as consumidas pela grande sociedade de uma forma geral.

O fofo, por si só, ajuda a elucidar esse vislumbre na paisagem social, cultural e política do mundo, além de buscar sinais e argumentos de como o crescente período da infância vem se tornando recorrente a popularidade e valorização, como se o novo objeto de glorificação fosse a criança e o amor arquetípico (sentimento que tem modelo ideal de algo que já faz parte do nosso inconsciente).

Mas e você, o que acha que é fofo? Já foi surpreendido hoje por bochechas rosadas ou animais peludinhos?

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