O sonho perdido

EVANDRO ANDRADE

O jovem Wilmar Junior Teixeira, 25 anos, pelo menos duas vezes na semana calça a chuteira e sai de sua casa a caminho do gramado. Faz isso à noite, pois o trabalho e o pouco tempo extra, não permitem que ele pratique essa atividade durante o dia. Ele teve o sonho de ser um jogador profissional, mas acabaram surgindo outras oportunidades. Mesmo não conseguindo o engajamento em um time profissional, é praticante ativo do bom futebol amador, que apesar de não render dinheiro, ajuda-o a manter a saúde e a boa forma.

Campo de futebol amador, Videira. Foto: Evandro Andrade.

Wilmar Junior começou a jogar aos dez anos. Aos quinze tinha o objetivo  na cabeça de ser um grande jogador de futebol. Junior procurou as famosas peneiras e foi no Vila Nova,em 2006,  no Estádio Onésio Brasileiro Alvarenga,  sua primeira prova de fogo. Ele joga no meio de campo, posição bastante concorrida nos times de futebol, é o responsável por passar a bola para o atacante, nessa peneira, dez anos atrás, eram trezentos jogadores disputando vaga, e por incrível que pareça, somente Junior e mais três jovens jogadores conseguiram chamar a atenção dos olheiros. Junior foi convidado a partir do teste, a compor a base do time Vila Nova.

O resultado de ter passado na peneira tão concorrida foi uma notícia boa, mas as condições para custear suas despesas o preocupava, pois o clube não ofereceu o suporte mínimo necessário para que ele se mantivesse na equipe, não dispuseram calção, chuteira, meião.

Cecília Teixeira, mãe do jovem jogador, falou que “tinha que dar o seu próprio sitpass para que o filho chegasse ao treino”. A situação do jovem jogador nas categorias de base, não se sustentou por muito tempo, pois faltava dinheiro até para ir aos treinos, participou de alguns jogos e desistiu.

Marcelo Teixeira Meneses, primo do jogador, falou que “conheço a trajetória de Junior, ele é bom de bola, é uma pena que não tenha conseguido chegar ao profissional”.Além do Vila Nova, Junior jogou também nas categorias de base do Goiás, mas a história se repetiu, não tinha dinheiro nem para pagar o ônibus.

O garoto jogou por mais dois anos, participando de campeonatos amadores e com a ideia de ser um grande jogador de futebol ainda viva. Mas, aos dezoito a ficha caiu, a idade já estrava avançada para começar uma carreira de jogador profissional. Vendo a necessidade de sua mãe mergulhou no trabalho, começou como aprendiz de açougueiro no mercado do seu bairro, e foi aí que o projeto profissional tomou outro rumo.

Hoje, aos 25 anos, Junior trabalha em uma empresa que vende materiais elétricos, na função de almoxarife, disse que não pretende ser mais jogador profissional de futebol. Joga somente para manter a boa forma, e por pura esportividade. Mas, engana-se quem pensa que o jovem é um frustrado, falou que “pretendo construir uma família, sou evangélico e,almejo ser um pastor”. A história de Junior é bastante comum, projetos que são mudados pela experiência no tempo.

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