Os altos e baixos de Claudio Filho que busca sucesso na carreira no futebol profissional
LUCAS MARTINS
Já é fim de tarde, a molecada começa a se reunir em um campinho de futebol no setor Lorena Parque e Claudio Filho já está pronto para jogar. A garotada se reúne pra formar os times. Dois garotos, Fellipe Matos e André Alves competem no par ou ímpar para decidir quem começa escolhendo os jogadores. Na soma dos dedos quem venceu foi André e sem analisar muito as opções já foi logo escolhendo Claudio, ou Claudinho como é chamado, que é considerado o melhor jogador no campo. Com as equipes formadas, Fellipe passa com uma expressão séria dizendo ao seu grupo: “Vamos vencer, se jogarmos direitinho vamos vencer sim”. Já André, com o olhar confiante e um sorriso no rosto diz: “temos o melhor do nosso lado, vamos ganhar fácil. E não deu outra! Claudinho, André e companhia venceram de goleada.
Claudio Filho, um jovem que busca o ingresso no mercado profissional do futebol, sabe que está difícil alcançar seu objetivo. Claudio já com 22 anos e se considera velho, comparado com garotos de 13 ou 14 anos que já conseguiram vaga no futebol profissional. A garotada está entrando cada vez mais cedo nesse mercado, fazendo com que jovens como Claudinho, com idade um pouco mais avançada, tenham mais dificuldades de conseguir uma vaga.
Nos últimos quatro anos Claudio conseguiu entrar em clubes de futebol, dentro e fora de Goiás. Fez bons jogos nos times que passou, mas não conseguiu prosseguir na carreira. Em 2012 o jogador entrou para o Goiás Esporte Clube, no time reserva da divisão sub-20. Claudinho entrava em campo nos minutos finais do jogo e teve poucas oportunidades de mostrar o seu potencial. Pouco tempo depois foi dispensado. “Não tive muitas oportunidades, isso me desmotivava bastante” disse Claudinho. No final do mesmo ano, um empresário e olheiro fez uma proposta para o Claudio e o chamou para jogar no Avaí Futebol Clube.
Carlos Alexandre, vizinho e amigo de infância de Claudio diz: “O Claudinho estava muito feliz, tomara que agora ele consiga” disse Carlos Alexandre, aos risos. Na adolescência, quando tentou entrar em alguns clubes locais, Claudio Filho não levou o futebol muito a sério. Deixava de ir aos treinos para ficar em casa jogando videogame, para sair com os amigos, soltar pipa e o futebol era sempre deixado de lado. “Hoje ele reconhece que o futebol é uma profissão séria e que ele precisa se dedicar inteiramente. Acho que a ausência da família na vida dele fez com que ele crescesse de forma irresponsável.” disse Carlos, um pouco chateado.
Seria no Avaí a oportunidade perfeita para o jogador. O time estava na segunda divisão do campeonato brasileiro de 2013, que começaria em pouco tempo e já estavam disputando a Copa São Paulo de Futebol Junior, a categoria sub-20 do clube. O Claudinho já chegou jogando, atuou bem nas partidas que fez, com bons passes e assistências. Não marcou gol, mas marcou seu nome no clube. O time não ganhou na categoria sub-20, mas Claudio foi bastante elogiado. Em um dos seus treinamentos o jogador se machucou, teve um deslocamento no joelho esquerdo, na perna que ele tem mais facilidade de jogar. A propósito, Claudinho também era chamado de esquerdinha.
O Campeonato Brasileiro estava começando e Claudinho ainda se recuperava, assistia aos jogos da arquibancada. A vontade de jogar com o seu time era imensurável. “O tempo não passava, minha recuperação era lenta mesmo seguindo todas as orientações do meu médico.” conta o jogador. Apesar de todos os esforços o esquerdinha só voltou aos treinos quatro meses depois. Já estava no meio do ano, no meio da temporada. Ele voltou para o time, mas ficou como jogador reserva, segundo ele por precaução do técnico. O fim do ano se aproximava e Claudio não estava sendo escalado para titular. Algumas vezes jogava os minutos finais das partidas, mas não era tempo suficiente para mostrar o seu potencial.
“Não tive muitas oportunidades, isso me desmotivava bastante”
O jovem jogador não se sentia muito à vontade quando o assunto era os pais, que são divorciados. Claudinho foi criado por sua tia Dalva: “devo muito para minha tia, ela me acompanhou em toda minha carreira, me levava aos treinos, me incentivava. Vou retribuir tudo isso ainda” disse o garoto com lagrimas nos olhos. A tia Dalva teve indício de AVC e está internada.
Dezembro de 2014 havia chegado e Claudinho estava de férias, sua volta estava marcada. “Eu havia pedido uma camisa dele assinada. Ele pode não ter jogado tão bem quanto esperávamos, mas por aqui ele sempre vai ser o melhor. Torcemos muito por ele” contou Nathan Arcanjo, vizinho e amigo do Claudinho desde a infância. “Vamos ter ele de volta no nosso time esses dois próximos meses”, completou Nathan. O time mencionado por Nathan é o MDV (Meninos da Vila), formado pela garotada do setor Lorena parque, que disputava os Campeonatos Interbairros de Futebol Society, também conhecido como “terrão”. Claudinho gostava desses jogos amadores, durante muito tempo ele jogou por vários times em vários bairros diferentes e acumulou muitos prêmios. Ele conta que ganhou todos os campeonatos, por todos os times que passou. Os prêmios eram em dinheiro e assim Claudio se sustentava. “Esses jogos são emocionantes, não joguei nas minhas férias, pois era perigoso eu me machucar de novo. Achei melhor não”, disse Claudinho.
E foi durante as férias que o jogador recebeu uma notícia inesperada, o seu empresário não renovou o seu contrato com o Avaí e encerrou também o seu contrato com o jogador. Claudio estava naquele momento fora do time e sem empresário. “Entrei na justiça contra ele, mas tudo que ele havia feito correu legalmente então não dei andamento com o processo”. Não demorou muito e o esquerdinha já havia encontrado outro empresário e dessa vez, o jogador recebeu convite do Santa Helena Esporte Clube, time do interior de Goiás. Após avaliar a proposta ele aceitou e saiu novamente de Goiânia.
Torcedor do Vila Nova Futebol Clube, Claudinho ficou feliz mas ao mesmo tempo apreensivo. Seu primeiro jogo pelo Santa Helena foi um amistoso contra o Vila Nova, no estádio Serra Dourada. Independente do time que ele torcia, não queria desperdiçar a chance de jogar em casa, com todos os seus amigos assistindo. Claudio jogou os 45 minutos do primeiro tempo e 30 minutos do segundo tempo. Apesar do empate o esquerdinha mostrou todo seu talento, foi elogiado por comentaristas esportivos e por seus companheiros. “O esquerdinha totalmente diferente com o moleque que treinei, jogando sério e sendo uma pessoa mais responsável” disse Vitor Morais, jogador do Goiás. “É um jogador muito talentoso, sua perna esquerda é muito forte, mas ele era muito irresponsável. Faltava aos treinos e quando ia, não levava nada a sério. Ele mudou muito”. Hoje o jogador é um rapaz muito responsável e sério. Bastante dedicado em casa e sempre prestativo com todos que o cercam
No Santa Helena o esquerdinha estava à vontade. Jogava na sua posição de lateral esquerdo e, mesmo não sendo um jogador que chuta muito a gol, já havia marcado dois. “Foram meus primeiros gols como jogador profissional, a felicidade é imensa”, disse Claudio, sorrindo. Infelizmente, sua alegria chegava ao fim. Uma nova lesão afastou Claudio dos gramados e ele ficou afastado até o fim da temporada. E assim como no Avaí, a historia se repetiu, o jogador foi dispensado e novamente ficou sem empresário.
De volta à Goiânia e recuperado, o esquerdinha estava jogando futebol amadorno bairro que mora. Procurou novos contratos, mas sem sucesso. O jogador, sempre confiante, procurava todos os dias novos desafios. Suas experiências mostraram como é difícil o acesso ao futebol profissional. “Os desafios se tornam maiores quando não se tem o apoio necessário da família. Hoje meus amigos são a minha família e é neles que busco meu apoio.” disse Claudinho segurando o choro.
Agora de volta ao “terrão”, o esquerdinha é o artilheiro do seu time e do campeonato, o time que ele joga está próximo de ganhar o campeonato e todo seu potencial está em campo. Claudinho nasceu para o futebol e sua perna esquerda foi preparada pra ser sua melhor ferramenta na busca de seu sonho de jogar futebol profissional.