Um cenário sobre as livrarias brasileiras e o ambiente virtual | Foto: Stanislav Kondratiev
Giovanna Lyssa, Helizelson Monteiro e Kamila Sena
Um grande prazer para os leitores assíduos é entrar em uma livraria e se deparar com estantes repletas de obras literárias dos mais diversos gêneros e estilos. O leitor que gosta de sentir texturas e o cheiros das obras, também sofreu o isolamento social.
Na pandemia, muitas livrarias fecharam as portas, algumas definitivamente, já outras precisaram reinventar-se. De acordo com dados da Associação Nacional de Livrarias (ANL) em 2014 existiam 3.095 livrarias no país, em 2021 eram 2.200. Isso significa que, no Brasil, uma livraria encerra suas atividades a cada três dias.
O mercado editorial apresentou uma redução de 8,8% entre 2019 a 2020, de acordo com dados da Câmara brasileira do livro (CBL). Ainda segundo a instituição, no primeiro ano da pandemia, foram impressos 82% de reimpressão e 18% de novos títulos, com uma redução de 20,5% na tiragem de livros.
No cenário atual, as livrarias voltaram a ganhar espaço para além das grandes cidades. A Associação Nacional de Livraria (ANL) mostra que desde 2021, houve a abertura de mais de 100 estabelecimentos físicos no Brasil. A ANL estima que o número atual é de cerca de 2.700 de lojas.
Enquanto as lojas virtuais, como a Amazon e Magazine Luiza, dobraram a porcentagem de participações no faturamento do mercado editorial em 2021 (24,8%), as livrarias físicas reduziram de 50,5% em 2018, para 30% em 2020.
Em análise aos dados, é possível que se prove um agravamento no cenário de livrarias durante a pandemia, mas os números indicam que esse mercado já estava apresentando declínio desde 2015.
A Retomada
Até maio deste ano, pesquisa do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e apuração da Nielsen BookData, aponta que livrarias exclusivamente virtuais foram a maior fonte de receita de editorias. Esta mudança de comportamento dos leitores brasileiros movimentou 35,2% deste mercado em 2022. Até 2021, este mercado ainda era dominado pelas vendas de livrarias físicas com 30%.
A melhora do cenário geral veio através de algumas estratégias. O investimento na internet é uma delas, não apenas com o objetivo de gerar vendas online, mas também como incentivo a um estilo de vida atrelado à leitura. Com a ascensão de redes sociais como o TikTok na pandemia, os chamados bookstans – influenciadores literários, entraram em evidência, interferindo no mercado literário.
Exemplos desse movimento são Bel Rodrigues, a influenciadora de livros mais seguida do Youtube brasileiro com 965 mil inscritos; e o TikToker Tiago Valente, com mais de 160 mil seguidores. Os números alcançados por eles são refletidos nas estantes de grandes livrarias brasileiras como a Leitura, que conta com uma sessão inteira dedicada a obras destacadas por influencers digitais.
Outra característica importante para o sucesso do trabalho realizado por esses influenciadores é o público alvo dos conteúdos, composto em sua maioria por crianças e adolescentes, faixa etária que tem maior interesse em leitura no país. De acordo com a última edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, em 2019, 71% das crianças entre 5 e 10 anos de idade são consideradas leitoras e 81% na faixa etária de 11 a 13 anos, depois disso os números decrescem. A pesquisa também revela que , até os 17 anos, a principal motivação para ler um livro é simplesmente gostar de ler.
PLS 49/2015 – A regulamentação
Ao final do mês de outubro deste ano, na Comissão de Educação e Cultura (CE) houve uma audiência pública para tratar sobre o projeto a respeito da Política Nacional do
Livro, voltado à regulação de preços das publicações (PLS 49/2015). O requerimento (REQ 98/2023) foi apresentado por Teresa Leitão, senadora do Partido dos Trabalhadores (PT), mas foi uma proposta de Fátima Bezerra, senadora do Partido dos Trabalhadores (PT), em 2015 e agora ganhou audiência.
O PLS carrega o nome de Lei Cortez, em homenagem a José Xavier Cortez (1936
– 2021) e, de acordo com o texto apresentado, todo livro, digital ou não, deve ter uma edição com preço único, pelo período de um ano após o lançamento da obra. Dessa forma, é possível incentivar o crescimento do mercado nacional como uma forma de incentivo à leitura.