Índice de alcoolismo entre mulheres aumenta no Brasil

Pesquisas apontam um aumento no número de mulheres que abusam do álcool subiu nos últimos anos

Foto: Graciete Marques
A cada ano sobe o número de mulheres que consomem bebidas alcoólicas. Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou os números de mulheres que abusam do álcool no Brasil, entre os anos de 2006 e 2012, aumentaram 34,5% em relação aos anos anteriores. Esse aumento não está relacionado apenas às mudanças do comportamento social feminino, que a cada dia tem tomado espaços que antes eram dominados ocupados apenas por homens, mas também a uma vida social mais ativa que em outros tempos.
Por um capricho da natureza, a relação álcool e sexo feminino não é a mais amigável, os danos causados por essa substância no organismo das mulheres é maior se comparado ao organismo dos homens.
Em se tratando de bebida alcoólica as mulheres sofrem maiores conseqüências que os homens, por possuir massa corpórea menor e menos quantidades de enzimas para metabolizar álcool, ele permanece no organismo feminino por maior tempo do que do organismo masculino e assim causa mais estragos. Os principais são maior incidência de uma AVC(acidente vascular cerebral), risco de osteoporose precocemente, maior incidência de problemas hepáticos e inúmeros problemas ginecológicos tais como infertilidade, abortos espontâneos, esterilidade. Há,ainda, o risco de anomalias congênitas, o que os médicos chamam de SAF (Síndrome de Alcoolismo Fetal),com risco maior para o feto se o álcool for consumido no primeiro trimestre da gravidez.
Fatores psicológicos também são determinantes para o abuso dessa substância. A psicóloga Thais Carneiro afirma que alguns homens e mulheres possuem fatores psicológicos que os deixam vulneráveis às doenças psíquicas mais do que outros indivíduos. Segundo Carneiro, as mulheres gastam muita energia emocional para manter uma imagem mais conservadora perante a sociedade, isso ligado a dupla jornada de trabalho faz com que muitas procurem a bebida como uma “válvula de escape“ às pressões a elas impostas.

“A bebida funciona como refúgio que as ajudam a lidar com essa sobrecarga”, explica.

A psicóloga comenta ainda, que o álcool por ser uma substância depressora do sistema nervoso central, reduz momentaneamente as barreiras de defesa e resistência psíquicas, levando a uma conduta mais desinibida e expansiva. Assim “Os sentimentos de inadequação e vazio desaparecem, assim como a solidão e a auto estima parece aumentar consideravelmente no momento do uso“, esclarece.
Depois de um casamento de 12 anos se desfazer, a costureira Antonia* de 37 anos passou a beber em demasia. Perdeu o emprego, a casa que morava e a guarda do filho, na época com 4 anos, para a avó paterna.“Perdi tudo que era importante para mim, inclusive meu filho que é o que eu mais amo na vida”, conta. Antonia só conseguiu ver uma luz no fim do túnel quando sua mãe a levou a um grupo de apoio a alcoolistas. A partir daí, sua vida mudou de rumo e tem conseguido reaver tudo que foi perdido, ainda não conseguiu ter de volta a guarda do filho, mas como já está há dois anos sem beber, entrou com processo para reaver a guarda do garoto.
A costureira conta que foi fundamental a ajuda da mãe para o seu tratamento, e que se não tivesse o apoio da família não teria conseguido sozinha. “Minha mãe me tirou do fundo do poço, se não fosse ela ter me levado ao AA (Alcoólicos Anônimos) eu nunca teria ido sozinha e ainda estaria naquele abismo“ .
De acordo com a psicóloga Thais Carneiro,o primeiro passo para sair do alcoolismo é se reconhecer como alcoólatra e a partir dai procurar profissionais da área de saúde especializados, psicólogos e médicos que possuam formação adequada para o acolhimento e tratamento dessas mulheres. “O problema deve ser encarado e cercado em todas as suas dimensões, para evitar recaídas e/ou desistências precoces“, explica. Para a psicóloga, a família tem um papel fundamental na rede de apoio. “as famílias devem oferecer amparo, proteção e estímulo para que essas mulheres percebam-se capazes de superar esse momento de crise, por saber que existem pessoas que acreditam nelas e estão comprometidas em sua melhora“ e aconselha as mudanças de hábito dos familiares “Será muito difícil vencer o alcoolismo se a própria família se opõe à abstinência e insiste em oferecer bebidas alcoólicas em todas as ocasiões festivas e de confraternização“, alerta Carneiro.

 

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