Foto: Reprodução
Texto por: Danielle Assis Borges Fantini | Acadêmica de Jornalismo da UniAraguaia
O avanço da Inteligência Artificial (IA) está revolucionando diversos setores, criando novas oportunidades e desafios para empreendedores em todo o mundo. No Brasil, essa tendência também tem se intensificado, com um número crescente de startups e empresas tradicionais adotando soluções básicas em IA para melhorar seus processos e serviços. Segundo dados coletados pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o empreendedorismo emergente teve um crescimento significativo de 2022 para 2023, impulsionado principalmente por um aumento de 11% entre os homens, enquanto entre as mulheres houve uma queda de 9% no mesmo período.
A formação acadêmica tem desempenhado um papel específico na preparação desses novos empreendedores para o mercado de IA. Com a integração crescente da IA nos negócios, o empreendedorismo no país tem o potencial de alcançar novos patamares, transformando setores e melhorando a vida das pessoas. Neste cenário, a combinação de conhecimento técnico, visão empreendedora e capacidade de adaptação será fundamental para aqueles que desejam liderar a próxima geração de negócios baseados em IA.
A empreendedora Heloisy Pereira Rodrigues, formada no primeiro Bacharelado em Inteligência Artificial pela Universidade Federal de Goiás (UFG), afirma que sua escolha pelo curso se deu após perceber grandes chances na área tecnologica.
“O principal motivo foi o mercado de trabalho muito aquecido. Além disso, embora eu nunca tenha tido contato com a área de tecnologia antes, o fato de ser exata me trouxe uma confiança maior, pois é uma área que sempre teve profundidade e um bom desempenho durante meus estudos. Diante disso, ingressei no 1º Bacharelado em Inteligência Artificial na Universidade Federal de Goiás, em que a base do curso é um tripé com matemática, computação e empreendedorismo. A matemática é algo importante, pois são feitos muitos cálculos dentro da IA, a computação também tem matemática por trás, trazendo novos conceitos, e o empreendedorismo nos mostra que somente cálculos e técnicas não são suficientes, temos que usar isso para resolver problemas complexos e criar soluções que impactam a vida das pessoas. Durante o curso, também foi muito incentivado, através de Projetos de Pesquisa & Desenvolvimento, o contato com o mercado de trabalho.”
Alex Silva, empreendedor e também formado pela UFG, revela seu fascínio pela possibilidade de máquinas reproduzirem o pensamento humano.
“Ao longo da minha jornada enquanto ‘Inteligente Artificial’ (risos), fiquei maravilhado com a possibilidade de máquinas reproduzirem o que é mais natural para nós: pensar. Mas justamente por ser tão natural, é extremamente difícil definir o que é o conceito de pensar, de ser humano. Imagine, então, fazer uma máquina imitar esse conceito nosso… É necessário. Então, justamente por esses desafios e pela interdisciplinaridade da Inteligência Artificial (da mais pura matemática até a filosofia mais humana) me decidiram tornar um bacharelado em IA. Não foi errado: consegui perceber que Inteligência Artificial é mais uma forma de enxergar nós enquanto humanos e conseguir solucionar problemas de forma criativa.”
Aplicação da IA no Mercado de Trabalho
Ambos os empreendedores atuam no setor de teleatendimento, onde a IA tem se mostrado extremamente eficaz. Heloisy dirige uma startup spin-off que desenvolve soluções de IA para contact centers:
“Atualmente, sou empreendedora e tenho uma startup spin-off que desenvolve soluções de inteligência artificial para teleatendimento/contact centers. Nessa empresa, utilizamos inteligência artificial para aumentar a eficiência dos call centers.”
Alex, fundador da MaCall, uma startup focada em contact centers, compartilha um projeto semelhante:
“Atualmente, tenho uma startup no segmento de Contact Centers, a MaCall. Sim, os famigerados call centers… Nossa função (enquanto empresa) é utilizar técnicas de inteligência artificial (nomes chiques como Machine Learning, Deep Learning, Automatic Speech Recognition) para automatizar tarefas repetitivas que os atendentes executam e, assim, exercem a capacidade de atendimento deles. Somos uma das provas vivas de que a IA não foi feita para tirar empregos, mas tornar os humanos mais humanos. Por exemplo, tiro as tarefas repetitivas dos atendentes (como buscar uma informação em algum lugar) e permite que eles tenham mais tempo para atender uma pessoa em si, entender a dor do cliente e criar um laço empático. Por mais paradoxal que pareça, é preciso que uma máquina execute alguns trabalhos para deixar o atendimento humano mais humano.”
Novidades e Impacto da IA no Empreendedorismo
As inovações em IA estão constantemente redefinindo o cenário empresarial. Heloisy observa que a automação de processos, a análise de dados e as ferramentas de apoio à decisão são algumas das principais novidades que a IA traz para o empreendedorismo.
“Um produto bom que temos é um assistente do atendente. Normalmente, quando se liga para os call centers, enfrentamos aquela URA, em que temos que ficar teclando os números várias vezes para irmos para a parte de nosso interesse. Isso é muito chato e demorado. Nossa começa solução retirando essa URA e permitindo que o cliente fale o que deseja, sem se preocupar em falar muito; a intenção é realmente essa. Após isso, fazemos processamentos utilizando IA que fazem a transcrição dessa fala do cliente, compreendem a demanda que ele tem, captam alguns dados que ele pode ter falado e buscam na base de conhecimento (que os participantes utilizam em seu dia a dia) os documentos mais relevantes dada essa demanda. Com isso, conseguimos fornecer para o atendente, quando ele inicia o atendimento, a transcrição da demanda do cliente, o resumo dessa demanda, os dados captados e também uma resposta sugerida para que o atendente verbalize. Isso o atendimento e aumenta a eficiência, pois o tempo de atendimento pode ser reduzido significativamente.”
Alex destaca que a Inteligência Artificial ganhou popularidade gigante por conta da OpenAI, com seu ChatGPT. No entanto, a IA já existia bem antes do lançamento dessa ferramenta, com impactos significativos nos mercados que a empregavam.
“Um exemplo clássico de uso de IA não percebido são os sistemas de recomendações, técnica que visa entender o padrão de consumo das pessoas e oferecer produtos relevantes no momento em que o cliente está mais exposto à compra. A Amazon é um grande nome disso, mas que tal o TikTok? Que cresceu justamente para conseguir identificar os gostos de cada usuário e sugerir vídeos que o estimulassem a continuar em sua plataforma consumindo mais e mais conteúdo”, destaca Alex.
O empreendedor também ressalta a importância do empreendedorismo estar sempre atento aos avanços tecnologico. “Recentemente, foi lançado o GPT-4o (perceba o “o” após o 4), que permite uma grande revolução nos mercados, já que estamos lidando agora com IAs que não dependem apenas de texto para se comunicarem e entenderem o mundo. Agora elas conseguem ver, ouvir e até sentir! Quantos produtos podem ser desenvolvidos a partir disso? Os empreendedores devem ficar atentos às novidades”.
Conselhos para Futuros Empreendedores
Para aqueles que desejam seguir carreira em IA, ambos os especialistas oferecem conselhos valiosos. Heloisy enfatiza a importância da formação contínua e da mentoria. “A área ainda está cuidada de bons profissionais. Se você tem interesse, aconselhe-se a pensar em uma pós-graduação na área. Caso você queira estudar como os materiais online (que têm muita coisa boa), precisará de um mentor para auxiliar no melhor caminho a ser seguido. Lembre-se também que a Inteligência Artificial não é um fim, mas sim um meio. Por meio dela, melhoramos a produtividade, a eficiência e os negócios em si.”
Segundo Alex, é necessario que os empreendedores se mantenham atualizados e focados na resolução de problemas reais.“O mercado de Inteligência Artificial é rápido e se renova a cada instante. Hoje você pensa que está dominando tudo sobre as tendências do mercado de IA, mas amanhã tudo pode ser diferente. Prova disso é justamente o lançamento do GPT-4o, quebrando diversas empresas que prometiam permitir justamente que o GPT-4 ver e ouvir o mundo. Agora a OpenAI oferece isso nativamente (possivelmente melhor)”.
“Portanto, aconselho encontrar dores verdadeiras, nichos de mercado que você possa resolver usando tecnologia. O que importa não é a tecnologia (a não ser que faça algo inédito, o que não se faz do zero), mas sim o domínio de todos os processos necessários para a implementação de uma solução que usa a tecnologia como ferramenta para chegar a um fim”, ressalta Alex.