Vivenciando a paixão e navegando por desafios: O equilíbrio delicado entre tradição esportiva e a segurança das famílias nas arquibancadas | Foto: Pixabay
Jaíne Amanda Oliveira
Em um país onde o futebol é mais do que um esporte, mas uma verdadeira paixão,
é comum ver famílias inteiras reunidas nos estádios para apoiar seus times. Essa
tradição, transmitida de geração em geração, cria memórias e fortalece os laços
familiares. No entanto, junto com a emoção surgem desafios para as famílias que
decidem levar ou não crianças aos estádios.
Dulce Elis, mãe e apaixonada pelo futebol, tem o prazer em levar seus filhos
pequenos ao estádio. “É uma experiência única, que com certeza fica na memória
deles e na nossa”. Nas arquibancadas, onde as cores vibrantes se misturam aos
cânticos da torcida, ela destaca que a experiência vai além de assistir a um jogo, é
uma oportunidade de compartilhar a paixão pelo futebol e, acima de tudo, de
construir memórias que perdurarão ao longo dos anos.
Dulce Elis enfatiza que, apesar dos desafios e preocupações associados a um
ambiente esportivo, os benefícios superam as adversidades potenciais. “Claro, há
sempre preocupações com a segurança, mas a alegria de ver nos olhos dos meus
filhos, a empolgação, a vibração da torcida, tudo isso faz valer a pena”, afirma.
Dulce Elis é torcedora do Goiás Esporte Clube, e acredita que o clube, consciente
dos desafios enfrentados pelas famílias, têm implementado iniciativas para tornar os
estádios mais acolhedores para os pequenos torcedores. Ela cita como exemplo, o
Setor Família, que foi inaugurado no Estádio Hailé Pinheiro em 2022.
A ideia do Setor Família surgiu após uma confusão entre torcedores esmeraldinos
no tobogã. O presidente do Goiás, Paulo Rogério Pinheiro disse em entrevista ao
Sistema Sagres, “É um setor para os pais levarem as crianças, é um lugar para ser
família. Não serão aceitos instrumentos de música, bandeiras, torcida organizada.
Qualquer pessoa que não condizer com esse espaço será retirada, não para fora do
estádio, mas para o tobogã. Basta os torcedores chamarem um segurança nosso”.
Por outro lado, Pollyana Pimenta, que tem costume de frequentar estádios, prefere
não levar seus filhos pequenos, pois não se sente confortável. “Tenho medo de
confusão”, explica. Para ela, o medo de incidentes de violência associados às
rivalidades de torcidas e ao vandalismo é um obstáculo que impede de proporcionar
essa experiência aos seus filhos.
Pollyana destaca que embora compreenda a paixão envolvida no esporte, ela
ressalta que presencia tumultos nos estádios, o que faz hesitar em expor seus filhos
a esse ambiente. “É uma triste realidade, mas a violência está lá, e não quero
arriscar a segurança dos meus filhos”, afirma ela.
Pollyana ressalta que, embora reconheça a importância de oferecer experiências
diversificadas às crianças, a segurança delas é sua prioridade máxima. “Tenho
certeza de que existem muitas famílias que têm experiências incríveis nos estádios,
mas, para mim, o medo supera o desejo de proporcionar essa experiência aos meus
filhos”, explica.
Em entrevista ao Canguru News, a psicóloga especialista em psicologia do esporte
Renata Victor Silva concorda que não existe uma idade específica para que a
criança comece a ir ao estádio. O que deve ser considerado é o conforto. “A
iniciação da presença de crianças nos estádios deve ser feita a partir do cuidado
dos pais com a segurança e bem-estar delas.”
Outros fatores, segundo Renata, estão ligados ao próprio time e à autonomia da
criança. “Deve-se levar em conta a partida do dia, o momento vivido pelo time no
torneio e a disponibilidade dos pais em relação ao tempo da criança, caso esta não
consiga concentrar-se durante o jogo inteiro, ou tenha necessidade de ir ao
banheiro ou alimentar-se no decorrer do tempo de jogo.”
Para a psicóloga Renata Victor Silva, torcer por um time é algo que colabora para o
desenvolvimento emocional da criança. “Sentir-se participante e representante de
um grupo é um processo essencial para sua constituição como indivíduo. A
experiência de ‘fazer parte’ de uma equipe como torcedor é, para além do ciclo
familiar, a base dos processos de identificação e diferenciação que ocorrerão ao
longo da vida”, destaca.