ANÁLISE FÍLMICA

PIRATAS DO VALE DO SILÍCIO

Por Watter Lorran

O nome desse filme teve como inspiração a região homônima da baía de São Francisco, nos Estados Unidos, que tem como forte a produção tecnológica, desde 1956. Quando as primeiras empresas começaram a se desenvolver nessa região, a matéria-prima dos processadores era o silício, daí o nome Vale do Silício

Essa obra foi roteirizada e dirigida por Martyn Burke e conta a história de ninguém menos que os geniais Steve Jobs e Bill Gates na disputa por espaço e reconhecimento na corrida da revolução tecnológica, que mais tarde iria transformar o mundo.

            Já na primeira cena temos Steve Jobs (Noah Wyle) quebrando a quarta parede olhando diretamente para a câmera, esse ângulo subjetivo que faz o expectador se sentir um personagem mostra um pouco da personalidade de Steve que era transgressora. O filme até nos lembra uma espécie de documentário, pois é narrado por Steve Wozniak (Joey Slotnick), que também quebra a quarta barreira criando conexão imediata com quem assiste o filme.

Universidade Harvard 1964

Bill Gates (Anthony Michael Hall) é representado de maneira bem curiosa. Apesar de focado para o seu propósito enquanto criador e empreendedor, ele não possui todo o carisma para cativar pessoas como Jobs possuía. E, em alguns momentos, o filme quase nos faz acreditar que Gates era até um pouco submisso a Paul Allen (Josh Hopkins), seu parceiro de trabalho, por causa da sua personalidade um tanto introspectiva. Steve Jobs é mostrado como alguém alternativo, o diferentão. Já Bill Gates é o cara extremamente metódico, competitivo que inclusive ama jogar poker.

Berkley 1976

Nesse trecho podemos vislumbrar um pouco da visão de Jobs ao apresentar em um encontro local de tecnologia o seu primeiro modelo de computador pessoal, algo que para a época era totalmente absurdo visto que seu objetivo era vendê-los para que pessoas comuns pudessem utilizá-los em casa. Nesse encontro Jobs consegue vender surpreendente 50 unidades.

Após buscar empréstimo em vários bancos sem obter êxito, Steve é procurado por Mike Markula (Jeffrey Nodling), o então responsável pela inteligência da empresa Intel, que lhe faz uma oferta de um quarto de milhão de dólares como investimento inicial para o desenvolvimento de seus computadores. Já nesse trecho percebemos uma pequena mudança de percepção em Jobs sobre os negócios.

Algo curioso começa a ser mostrado nesse trecho sobre Bill Gates: a sua aparente inconsequência ao volante que é mostrada com vários raccord de movimento – técnica de edição de vídeo – como se ao estar na direção essa fosse sua forma de ter uma atitude transgressora e até mesmo arriscada para contrapor seu estilo metódico. Até essa parte o filme faz vários planos americanos durante os diálogos, salvo exceções em que planos detalhe são explorados para dar destaque nas cenas onde aparecem os equipamentos tecnológicos.

Feira de Computadores de São Francisco 1977

Essa cena é muito interessante por mostrar como o comportamento de Steve Jobs foi mudando ao longo de sua trajetória, de um jovem que por vezes era relapso em um homem de negócios que começa a pensar de forma estratégica e até mesmo fria algumas vezes.

Ao apresentar seu modelo de computador pessoal na feira, Jobs ignora completamente Bill Gates quando ele vai se apresentar para ele. E isso fica claro na escolha de planos feita pelo diretor que mostram Jobs em contra plongée dizendo que antes ele quem ia atrás das pessoas e agora ele é procurado. E, logo em seguida, mostra Bill Gates em contra-plongée em plano geral saindo da feira de computadores. Aqui fica claro que já havia uma disputa entre Steve e Bill.

Início da Apple e da Microsoft

Juntamente com o crescimento da Apple, o ego de Jobs também é representado de maneira proporcional. O dono da Apple é mostrado de uma maneira agressiva e ao mesmo cínica tanto nos relacionamentos pessoais quando profissionais.

A Microsoft vinha crescendo, mas não tanto quanto a Apple e Bill Gates é mostrado como um líder mais calmo e com uma certa frieza estratégica que nos faz percebê-lo como alguém distintamente mais calmo que Steve Jobs.

Uma grande tacada é dada pela Microsoft ao comprar uma empresa de desenvolvimento de sistema operacional de uma companhia de computadores de Seattle, a partir desse momento a Microsoft deslancha.

Comunidade todos em um

Steve Jobs com toda certeza teve vários problemas na vida pessoal e isso é mostrado no filme por conta dos vários conflitos que ele teve com a mãe de sua filha Lyssa, que ele parecia renegar no filme. A partir desse momento, no filme Jobs é retratado várias vezes em contra-plongée, como se o diretor quisesse mostrar o crescimento do poder e do ego de Steve. Já Bill Gates é mostrado como alguém meio obsessivo na busca de suas metas e objetivos inclusive em uma cena onde ele perde controle no aeroporto.

Durante o desenvolvimento do projeto Macintosh Bill Gates procura Steve Jobs para propô-lo ajuda ao unir suas empresas para disputar com a gigante IBM, mal sabia ele qual era a verdadeira intenção do seu até então concorrente. Para que a obra completa não seja pirateada nessa análise, recomendo que assista o filme pois assim irá entender inclusive o porque do nome Piratas do Vale do Silício. Bom filme!

FICHA TÉCNICA

FILME: Piratas Do Vale do Silício (Pirates of Silicon)

GÊNERO: Drama

ANO: 1999

ORIGEM: Estados Unidos da América

DIREÇÃO: Martyn Burke

ELENCO: Anthony Michael Hall, Noah Wyle, Bodhi Elfman, Joey Slotnick, John Di Maggio, Josh Hopkins, Gema Zamprogna, Allan Royal.

DURAÇÃO: 95min

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