Texto: Raquel Fernandes
Edição: Vinicius Martins
Dizem que todo dia é dia da mulher, portanto, nada melhor que falar sobre nós após oito meses da data oficial. Creio que um dos maiores privilégios da vida é poder ser mulher. Nós não somos mulheres apenas por termos nascido assim. Nós somos mulheres porque podemos e conseguimos ser. Porque não é fácil – ah, não é fácil mesmo! – Cada dia é um desafio a ser concluído, a começar pelo cabelo bagunçado e criticado mentalmente ao nos olharmos no espelho pela manhã, até o processo árduo de retirada de maquiagem do rosto antes de se deitar.
Neste meio, passamos por banhos, roupas, sapatos, maquiagens, refeições preparadas por nós – pois na maioria das vezes não temos quem as faça –, encarar os pedais do carro calçando os saltos que vão ficar nos nossos pés durante o dia todo, a preocupação constante em checar se o cabelo está arrumado, se o batom ainda está na boca, se a calcinha está aparecendo por baixo da calça, se ainda resta algum traço do perfume passado após o banho matinal, e além de tudo isso, ainda se preocupar com o que as pessoas ao seu redor estão pensando de você.
Concluímos o dia de trabalho com a postura e elegância de quem acabou de começar, voltamos para o trânsito que nos permite pensar naquilo que ainda temos a fazer, vamos para a faculdade com a força que nem nós sabemos de onde vem, e encaramos a volta pra casa com a certeza de que o fogão e outras obrigações nos esperam. Tiramos aquela armadura de super poderosas que nos incomoda e nos aperta e finalmente vamos para as tão aguardadas horas de descanso, as quais não são inteiramente aproveitadas, pois, ao colocarmos a cabeça no travesseiro, o dia seguinte já vai sendo todo traçado e planejado na nossa mente.
E por mais exaustivo que isso pareça, ainda conseguimos ser mães! Se pararmos pra pensar, seria inimaginável colocar todas estas obrigações e adicionarmos uma, duas ou mais crianças no cotidiano de uma pessoa só. Acho que foi exatamente nisso que Deus pensou e, vendo que Adão não daria conta do recado, decidiu criar Eva. Mães (casadas e especialmente solteiras) deveriam receber troféus e estátuas em sua homenagem.
Além disto, existem aquelas coisinhas que só nós temos a capacidade de realizar. Ir ao salão, por exemplo, e ficar horas a fio sentadas em frente a um espelho nos submetendo a vários procedimentos, só porque somos morenas e queremos ficar loiras – ou vice versa –, temos cabelos longos e queremos que eles fiquem curtos, ou são enrolados e trabalhosos então a partir de agora ficariam lisos.
Também temos a missão convidadas ou madrinhas de casamento, onde além de toda uma tarde visitando cabeleireiros e manicures, ainda ficamos uma noite inteira em meias e vestidos apertados, penteados imunes a água e sapatos de salto que sempre nos deixam uma lembrança no calcanhar e dedos para os dias seguintes.
Nossa instabilidade emocional tem uma permissão natural, chamada TPM. Nela, ou até mesmo durante o período menstrual, podemos assistir a um filme e chorarmos o quanto quisermos sem a reprovação de quem está ao nosso lado, ficarmos um dia inteiro deitadas e medicadas sofrendo de dores insuportáveis, e revezarmos os dias em tristezas, alegrias, raivas, excitações, choros, e comilanças.
A vida de uma mulher é tão desafiadora e ao mesmo tempo maravilhosa, que boa parte das produções hollywoodianas são baseadas no sexo forte – e não sexo frágil –. Sandra Bullock, em Um Sonho Possível; Kate Winslet, em O Leitor; Meryl Streep, em O Diabo Veste Prada; Cameron Diaz, em Uma Prova de Amor. Estes são alguns exemplos de filmes que retratam mulheres sofridas, porém fortes; trabalhadoras e ainda sim lindas e perfumadas; mães que dariam sua vida pelos filhos; mulheres que lutam e sofrem com doenças em si próprias ou na família; profissionais que colocam o trabalho à frente de tudo e ainda sim têm seu lado humano e maternal.
Temos, sim, vários defeitos, sejam eles poucos ou muitos. Mas as qualidades que nós temos, ou nos esforçamos para ter? Ah! Estas são infindáveis. Tantas mulheres, belezas únicas, vivas, cheias de mistérios e encanto. Guerreiras que deveriam ser lembradas, amadas, admiradas todos os dias. Feliz dia, todos os dias, aos maiores soldados das guerras da vida.