Redação: Iara Quintanilha e Raquel Moura
Edição: Ana Maria Morais
A produção de cerveja artesanal no Brasil iniciou-se de forma cautelosa. A bebida mais apreciada do país chegou por aqui junto com a Família Real portuguesa, em 1808. Seu começo, porém, não foi fácil: além da forte concorrência com outras bebidas (aguardente e vinho), as cervejas precisavam ser importadas da Inglaterra. E, com o passar dos anos, as taxas de importação ficaram cada vez mais altas.
Para driblar os preços elevados, imigrantes ingleses e alemães começaram a produzir, de maneira artesanal, suas próprias cervejas. Porém, ainda existia um entrave: importar os insumos também era inviável. A solução foi trocar a cevada e o lúpulo por outros cereais, como milho, arroz e trigo. Por volta de 1850, começam a surgir as microcervejarias brasileiras – entre elas a Bohemia (primeira cervejaria imperial do Brasil), a Brahma e a Antarctica. Com a popularidade aumentando, as microcervejarias viram seu porte crescer e a sua produção aumentar de maneira significativa. Em 1967 uma marca europeia chegou ao Brasil para ser comercializada em grande escala (e revolucionar o mercado, mais uma vez): a Skol foi a primeira a lançar uma versão em lata, em 1971.
A partir da década de 90, teve início uma retomada da produção artesanal de cerveja no país. Entre as principais alavancas dessa volta estão a busca por qualidade diferenciada, novos sabores e, principalmente, uma alternativa às pilsenses (que dominam o mercado comercial).
No estado de Goiás, temos em destaque a Cervejaria Klaro, a unidade em Goiânia foi fundada em 05 de maio de 2004. Apesar de ser uma empresa pequena, a visão é de grandes produtores e, desta forma, são realizados treinamentos em todas as etapas do processo: na produção, comercialização e logística.
Conversamos com Lorenna Pinna, que é sommelière de cervejas artesanais, coordenadora de Cursos do Instituto da Cerveja em Goiás e Distrito Federal e, atualmente, é também coordenadora comercial da Cervejaria Klaro em Goiânia. Ela contou como a sua paixão por cervejas surgiu de forma inusitada: “Então, é muito engraçado isso, porque eu não tomava cerveja até meus 30, 32 anos, e aí eu conheci a cerveja artesanal. Fui ao bar como todo mundo ia na sexta-feira, o rapaz que atendia a gente, um garçom muito assertivo e muito bem treinado, ele chegou e me perguntou por que eu não estava bebendo ou qual chopp eu queria, eu falei que não gostava de cerveja, aí ele falou assim: você não gosta de cerveja? Eu disse: não! Ele me questionou por que, e eu disse que o gosto da cerveja não me agradava. Ele me perguntou: qual é a bebida que você não vive sem? Eu falei café, logo em seguida, o rapaz trouxe duas amostras de cervejas com um “sabor” de café. E ali começou minha paixão por cerveja artesanal, naquele dia quebrou o paradigma, e então comecei a estudar a partir daquele dia, é assim começou a paixão e estou nela até hoje.”
Lorenna explicou que, na área comercial da cervejaria, ela ministra treinamento e análises sensoriais para sommeliers e participa ativamente do processo de seleção de estilos, receitas. A área comercial envolve todo o processo, desde a parte de criação até chegar nos pontos de vendas.
Uma dúvida frequente em relação à cerveja, é como podemos diferenciar a cerveja industrializada da cerveja artesanal. A sommelière esclarece: “Pode-se dizer que as duas são industrializadas, mas tem uma ação quantitativa de litragem e também do que é colocado nas cervejas. As cervejas artesanais usam praticamente: água, malte, lúpulo, leveduras, frutas e especiarias, dependendo do tipo de cada uma. Já as cervejas industrializadas são cervejarias que têm um processo muito grande, então para que possam estar presentes no mercado, há necessidade de utilizar algumas matérias ou materiais químicos para que as cervejas possam ter, no caso, uma fermentação acelerada. Às vezes colocam um extrato de lúpulo, para redução de custo, e conservantes químicos para a conservação por mais tempo e com menor custo, pois os lúpulos são mais caros. Diferente das cervejarias artesanais que não usam conservantes químicos, apenas usam o lúpulos em palets ou flor. Essa é a diferença principal em relação à produção da cerveja artesanal, na qual não se utiliza atributos químicos”.
Em relação a números, em 2017 a Klaro era menos de 1% na cadeia produtiva ou na cadeia de vendas da cerveja artesanal no Brasil, no último censo que foi feito em 2020, a cervejaria teve um crescimento de 2%. Atualmente, conta com mais de 1.300 cervejarias instaladas pelo Brasil, em Goiás eram 22 cervejarias no último censo, hoje são quase 50.
Em sua conta do Instagram (@lorennapinna), Lorenna tem séries em forma de post, onde ela faz fala sobre suas experiências e seu processo ao longo dos estudos e conta sobre as curiosidades das cervejarias. (#DiarioDeUmaSommelière) e (#CuriosidadesCervejeira) vale a pena conferir os posts.