A constatação faz parte de análises preliminares do estudo NutriNet Brasil, desenvolvido por especialistas do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), que iniciou em janeiro e terá duração de dez anos
Camila Alves
O Estudo NutriNet Brasil irá acompanhar 200 mil pessoas de todas as regiões do país para identificar características da alimentação brasileira que aumentam ou diminuem o risco de doenças crônicas muito frequentes entre nós, como obesidade, diabetes, hipertensão, doenças do coração e câncer.
De acordo com o estudo, a pandemia gerou muitas mudanças nos hábitos alimentares, entre elas o consumo frequente de comida caseira e fresca. O estudo foi realizado com dez mil participantes e indica aumento generalizado na frequência de consumo de frutas, hortaliças e feijão durante a pandemia.
Em entrevista concedida à rádio Brasil de Fato, a pesquisadora Kamila Gabe respondeu algumas perguntas sobre o estudo, uma das quais reproduzimos aqui:
Brasil de Fato: Vocês têm dito que esse é o maior estudo sobre alimentação do país. A quê exatamente pode ser atribuído o aumento de pouco mais de 4% na frequência de consumo de produtos saudáveis?
A gente analisou dados de pessoas que tinham respondido um questionário sobre alimentação antes de a pandemia começar, em janeiro, e depois novamente em maio, quando se tinha chegado ao auge da adesão às medidas de distanciamento social e físico no Brasil. A gente observou que houve aumento no consumo de alimentos saudáveis, como hortaliças, frutas e leguminosas. As possíveis hipóteses que a gente levanta pra explicar esse aumento no consumo de alimentos saudáveis é que, talvez, as pessoas possam estar mais preocupadas com a própria saúde, com as defesas imunológicas do organismo em caso de uma possível infecção por coronavírus e por isso buscaram se alimentar melhor.
Alimentação natural
O maior tempo em casa fez com que as pessoas se preocupassem mais com a alimentação, passando a cozinhar sua própria comida. Essa preocupação pode estar ligada com a vontade de perder o que ganhou desde o início da quarentena.
“Trabalhando em home office eu consigo comer melhor, preparo minha própria comida, trabalhando fora, eu sempre comia em restaurante, a noite chegava cansada e pedia comida por aplicativo. Ganhei muito peso no início da pandemia, comecei a ficar muito preocupada, mas isso me fez conscientizar quanto à minha saúde, é preciso estar saudável e forte. Para isso, se alimentar bem é primordial”, relata a representante comercial Anna Sheron.
A procura por alimentação saudável refletiu nas lojas de produtos naturais, lugar onde as pessoas buscam auxílio e complemento para suas alimentações. O engenheiro de alimentos e sócio da Ektus Produtos Saudáveis, Warlley Carvalho, diz que o faturamento não caiu na pandemia, pelo contrário.
“Foi o ano que mais vendemos, principalmente produtos para aumentar imunidade, como própolis, polivitamínicos, óleo de alho, e produtos para perda de peso. Suplementos alimentares contribuem na qualidade de vida, suprindo o corpo com nutrientes importantes para repor gastos energéticos, que muita das vezes não conseguimos obter com nossa alimentação normal.”
A consultora de vendas Mary Kelida, da Tropical castanhas, trabalha com a distribuição para todo o Brasil e também comenta sobre o aumento nas vendas.
“O crescimento é grandioso, por várias vertentes, a principal é que as pessoas estão mais cientes de que a boa alimentação fortalece o sistema imunológico, e nesse momento é muito importante a imunidade alta. Nós não vendemos produtos, nós vendemos saúde, por isso é um mercado que cresce.”