Um sonho interrompido

Atleta rompeu o ligamento do joelho durante partida, teve o contrato cancelado e se aposentou aos 19 anos.

VALÉRIA OLIVEIRA

Qual o maior sonho de uma criança de três, quatro anos? Um brinquedo, uma bicicleta…? Não. Para alguém que mesmo sem muito entender o sentido da vida já carrega muito mais que uma paixão, uma verdadeira determinação. Para ele aquilo se tornou um sonho.

Para Divanaldo o que sentia ia mais além de um capricho de criança. Nascido em uma família de eternos apreciadores de esportes, mas especificamente de futebol, o pai na juventude até tentou uns chutes, mas nada profissional, era apenas para preencher uma vaga no time do bairro, nada comparado ao que o filho sonhava.

Divanaldo durante Campeonato amador Foto: Valéria Oliveira

Quando terminavam os jogos transmitidos pela TV, era certeza que o único lugar onde poderia estar seria no quintal, executando um a um os passos que havia gravado rigorosamente durante aquela partida. Aos seis anos de idade a família o colocou em uma escolinha de futebol, aí que sua história começou a ser escrita. Muito habilidoso, Divanaldo se destacava entre os garotos mais velhos do time. Ainda nessa fase começaram as propostas, um olheiro impressionado com o talento, ofereceu uma oportunidade  para mudar de cidade e treinar em um time de base, o que não aconteceu, pois devido a pouca idade os pais não autorizaram a viagem.

Aos oito anos, a mudou-se para Palmas, no Tocantins, pois devido a problemas financeiros  foi o único lugar onde o pai conseguiu um emprego e também por esse motivo ficou alguns anos sem treinar.

Um pouco mais velho, agora com onze anos e morando em Goiânia, o cenário era outro. De volta aos treinos, novas oportunidades surgiram, começou a treinar no Gramados Futebol Clube, um time do bairro pelo qual conquistou alguns títulos e ficou até os quinze anos, depois foi jogar no União onde ficou até completar dezoito.

“Chegando nessa idade, pensei em desistir, na minha opinião tinha passado da idade e não conseguiria chegar a lugar algum. Mesmo assim, os meus pais me deram apoio para conseguir realizar meu sonho”. Participou de uma “peneira” , teste onde os jogadores são avaliados, para os dois maiores clubes do Estado. Não foi bem e apenas dois jogadores foram selecionados, coincidentemente, os que eram agenciados por um ex- jogador de futebol. Em um dos testes, ficou entre os 60 melhores, o que garantiu a chance de fazer um novo teste, após ter realizado o teste foi o único a ser selecionado para o time sub-20 do Vila Nova.

Pouco tempo depois, houve uma troca de diretoria no Vila Nova e Divanaldo foi dispensado sem nem mesmo  jogar. “Aquilo pra mim foi a gota d’água, definitivamente, futebol não era pra mim”!. Logo em seguida, foi procurado por um olheiro que o havia observado durante um treinamento no Vila e falou que estava interessado em contrata-lo para o time dele o Raça. A proposta foi animadora, era a oportunidade que ele precisava pra se tornar um atleta profissional. Pelo Raça  disputou o Campeonato Goiano sub-20, até que em 2012, agora com dezenove anos participou de uma seleção realizada pelo jogador Wesley, da seleção do Catar, que veio ao país  selecionar alguns jogadores pro seu time.

Divanaldo ficou entre os três jogadores selecionados, tudo acertado pra viagem, só faltava o último amistoso para que a equipe embarcasse rumo ao Catar, e foi durante essa partida  que aconteceu algo que adiou seus planos.  Com seis minutos de jogo o atleta rompeu o ligamento posterior do joelho esquerdo. Diante do ocorrido a viagem foi cancelada, o clube não arcou com as despesas da cirurgia e o jogador teve que aposentar com apenas dezenove anos. Vendo seu sonho acabar de uma forma tão rápida, o jovem lamenta a oportunidade de ter sido atleta profissional por apenas dois anos e ressalta que se no Brasil tivesse mais apoio e incentivo, os jovens teriam mais oportunidades e consequentemente surgiriam outros craques com Neymar. ” Infelizmente no nosso país, só conseguem seguir carreira os que têm empresários ou um grupo reconhecido para ser agenciado. Essa é a realidade”.

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